“... o contrário da vida não é a morte, o contrário da vida é o desencanto.”
(Simas, Luiz Antonio e Rufino, Luiz; Encantamento: sobre política de vida, pg. 9)
Diante de uma realidade na cidade de São Paulo, cujas existências estão sendo reduzidas cada dia mais a uma engenhoca maquínica do capital, do que a uma potência humanizada de vida, cujos hábitos restringem o desejo do pouco lazer ao confinamento solitário em casa, apequenando a possibilidade de fruição da cidade e dos bens culturais e artísticos como bem público, MEIO reflete sobre isso como sintomas graves de uma vida desencantada.
Somando-se a isso, há uma porção de efeitos reminiscentes do mal estar pandêmico, mas também reverberam ainda as antigas e coloniais dificuldades de se estar em sociedade lidando com as suas violências, o que conecta com as diferenças também no acesso, pois toda diferença social acarreta numa desigualdade financeira. Tendo cenários onde maior parte da população da cidade se sente na impossibilidade de se estar e gozar de condições dignas de existir, MEIO crê na importância de fazer criações acessíveis e que cheguem mais próximo do público no seu dia a dia, a fim de com isso, encantar e lutar por direitos de pertencimento sensíveis na cidade de São Paulo.
O fazer artístico como oportunidade de ativamente pensar o modo de vida urbano, que através da dança, da performance, da intervenção urbana, da fala pública e de atividades artístico-pedagógicas, retomam a possibilidade da arte contemporânea enquanto cultura cotidiana e com isso, poder transformar o modo de vida citadino. Ao atrelar o debate e o estudo teórico à prática, deseja-se reconectar as pessoas a si mesmas, ao meio e a tudo que está posto no mundo. Resistir bravamente ao desencanto. Oferecer possibilidades de reflexão, fruição e apreciação artística como forma de gerar campos de saberes sensíveis em meio à dureza da malha urbana.
É importante frisar que, como sempre, MEIO insiste na pesquisa de corpos-paisagens, ou seja, leva em consideração que tudo o que está posto enquanto totalidade já dada, agida e construída, especialmente na dita paisagem urbana, é assim como o corpo: parece pronto e fixo, mas sempre está em transformação. Corpos-paisagens é a pesquisa continuada em que o grupo pratica a retroalimentação e renovação entre sujeito e seu entorno, não desassociando o que acontece “dentro” do corpo com “fora” dele. A cidade já está corporificada em percepção, sensação, imagem e o corpo é também paisagem urbana que pode modificar as relações de força num lugar.
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